O QUE É MESMO TEOLOGIA (?): impressões propedêuticas
A
primeira consideração que deve ser, a meu ver, levada em consideração quando se
tenciona refletir sobre o que é teologia, é considerar que teologia não é coisa de gueto.
A
teologia é comumente associada à defesa da fé e/ou à apresentação do ponto de
vista doutrinário de uma dada instituição religiosa (leia-se aqui, igreja). Não
é “à toa” que todo formando ou bacharel em teologia é conotado como alguém que
almeja o ofício pastoral, isto é, alguém que queira ser padre ou pastor. Ou até
mesmo missionário. Mas tal entendimento decorre do fato de sempre a teologia
estar cativa às instituições religiosas.
Não
creio que teologia represente a defesa de um dado credo religioso. Creio, antes,
que a “teologia” que é feita a partir do gueto já não é teologia. Porque as
teologias nascem do e no cotidiano das pessoas, logo, a
teologia é uma postura de escuta, é escutar as vozes daqueles se debruçam sobre
Deus, ou deuses.
A
teologia não vem do gueto, mas cria guetos, logo, a reflexão teológica não é,
ou não devia ser, elaborada sob premissas “guetificadas”.
Seu embasamento à priori deriva de
instâncias pré-gueto. Destarte, todo
intento de guetificar a teologia para
a partir daí se começar a pensar teologicamente, me parece, uma postura
teologicamente reprovável, e até mesmo a-teológica.
As
teologias quando postas em contato com as instituições se corrompem e deixam,
portanto, de ser teologia. Tornam-se, após contato institucional, doutrina,
dogma, “teologias de gueto”.
Teologia
seria então um caminhar em direção daquela voz que suspira por seu deus. Escutar
o clamor do homem antes do contato com a instituição, sim, tal postura deve
embasar o labor teológico. Teologia é, pois, escuta. Não uma escuta de Deus (ou deuses); não uma escuta da doutrina; mas, a
escuta daquele que clama por esse(s) Deus(es) antes do contato com entes religiosos. Lewis dizia que “o teólogo é aquele que escuta o coração”, sim,
escutar o coração é, de longe, a intentio
teológica.
Termino
com a citação de um texto sagrado, “ (...)voz
do que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor, tornai retas as suas
veredas (...)”. Ouvir a voz que clama
é o à priori do labor teológico. Ser teólogo
é aprender a ouvir vozes. Inclusive as vozes dos que já se foram, mas que os
ressuscitamos quando os escutamos.
gostei do texto Miguel, gostaria de ressaltar a linguagem que deveria ser mais abrangente, por exemplo, gueto, perdoa a minha ignorância, não percebi bem o termo gueto. obrigado desde já.
ResponderExcluirPrezado Proselito Agnosis,
ExcluirQuero primeiramente agradecer por sua visita ao blog, e, agradecer também por ter deixado seu comentário.
A expressão GUETO é um termo sociológico, mas aqui no texto tem a conotação de todo pensamento sobre Deus(es) que está cativo ao olhar de uma dada instituição religiosa.
Em relação à linguagem, sim, você tem razão, talvez devesse ser mais abrangente. Vou considerar este detalhe nos próximos textos.
Mais uma vez, meu muito obrigado por sua visita, e volte sempre!
A metáfora do "geto" me parece precisa para expressar um recorte espacial, cuja lógica própria, molda o fazer teológico e consequentemente (seguido sua linha de pensamento), o faz cativo desse modos operandi, que quando se encontra com outros micro espaços, não consegue suportar a conversa, a troca. Essa troca, por assim dizer - e honrando essa forma de pensar - seria um encontro cuja beleza se mostra na riqueza de olhares como que de irmãos falando de suas leituras sobre deus(ou deuses). Portanto, a "guetificação" da teologia precisa ser superado, se quisermos pensar numa teologia livre, que se faz necessária e mais uma hermenêutica nessa era multicultural e de bricolagem.
ResponderExcluirAlberto, este blog acaba de registrar um momento histórico, sim, sua visita nos deixa deveras satisfeitos que, em honra à história, faremos questão de salvar este momento. É gratificante o comungar de ideias, principalmente quando uma das partes (você) manja bastante do assunto. Concordo com você, a teologia hoje, que se pretende relevante, precisa se expor mais e sair dos seus escombros para que, transpondo tais escombros, veja o lado do outro que está noutro lado. Bem vindo Alberto, esperamos tê-lo conosco mais vezes.
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